Dicionário de Cultura Básica/Arquitetura

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ARQUITETURA (a arte de ordenar espaços)

O arquiteto: o que abre para o homem...
portas por-onde, jamais portas-contra.
(João Cabral)

Do latim arqui-+ tectum ("principal teto" = cobertura básica), arquitetura, de um modo geral, significa a organização dos componentes de uma estrutura. Sua origem pode ser encontrada na necessidade de o homem se abrigar, ordenando o espaço disponível para adaptar o meio ambiente a sua vida, aproximando-se da atividade que hoje chamamos de Ecologia. Na Grécia antiga, a arquitetura era considerada a "arte maior", aquela que acolhe todas as outras atividades humanas, especialmente as duas artes irmãs, a Pintura e a Escultura. Com efeito, é o templo que abriga estátuas e quadros. O tipo de construção é relativo aos recursos técnicos de cada civilização e a sua ideologia, apresentando a interação de dois fatores: o material disponível e o mito, derivante dos valores simbólicos que conferem a uma obra a visão espiritual do artista, que é como uma antena que capta o inconsciente coletivo do seu povo. Assim, o templo grego (→ Grécia) exprime sua estrutura clássica pela linearidade do sistema de colunas, que absorvem o empuxo de um entablamento horizontal, com tensão para o alto. Já a arte latina (→ Roma) privilegiou o arco e a abóbada, cuja linha curva chega ao auge na ogiva gótica. O Renascimento italiano retoma o estilo neoclássico da Grécia, enquanto o Barroco espanhol se amolda melhor à linha curva da arte medieval. Na França, aflora a figura do engenheiro Gustave Eiffel (1832–1923), construtor da famosa Torre, que leva seu nome. O monumento metálico de 320 metros de altura e de mais de 7 toneladas de peso foi erguido no Campo de Marte, em Paris, para a Exposição Universal de 1889, em comemoração do primeiro centenário da Revolução Francesa. No séc. XX, a descoberta de novos materiais levou ao surgimento de técnicas revolucionárias na arquitetura, superando o academismo oficial. A chamada art nouveau juntou ao concreto armado perfis de aço ou de alumínio e painéis de vidro, construindo cúpulas arrojadas. O arquiteto canadense Frank Gehry assinou as obras arquitetônicas mais belas da atualidade: o Museu Vitra Designer da Alemanha; o Museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha; o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, com uma fachada de aço, em forma de uma flor, para homenagear a paixão da viúva de Wlat Disney pelas rosas. O conjunto arquitetônico da Opera House de Sidney, o cartão-visita da Austrália, é um hino ao gênio humano.

No Brasil, notável foi a construção da nova Capital, Brasília, cujo plano Piloto foi tombado pela UNESCO, em 1987, como primeiro patrimônio histórico moderno da humanidade, pela beleza e ousadia de suas linhas arquitetônicas! À Brasília de Oscar Niemeyer é o título de um poema de João Cabral, exaltando a figura de quem assinou as obras mais fantásticas do urbanismo moderno. Niemeyer e Lúcio Costa foram os discípulos mais aplicados do gênio da arquitetura francesa Le Corbusier. O mesmo escritor do Recife, o "poeta-engenheiro", escreve outros poemas relacionados com a arte de construir: Tecendo a Manhã ("Um galo sozinho não tece uma manhã // ele precisará sempre de outros galos"); A Mulher e a Casa, onde o lirismo chega ao erotismo através das imagens da penetração do homem no espaço interno da casa e da mulher; Fábula de um Arquiteto, de que transcrevemos a primeira estrofe:

A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.