Dicionário de Cultura Básica/Estruturalismo
ESTRUTURALISMO → Formalismo → Função → Texto → Crítica
Do latim structura, o conceito de estrutura, entendida como relação entre as parte de um conjunto, pode ser rastejado em antigas noções das ciências naturais, matemáticas e humanas, onde se confunde com conceitos afins, como "sistema", "organismo", "conjunto", "modelo", "forma". Aplicado à lingüística por Wilhelm Humboldt, o termo "estrutura" encontra-se em Saussure e nos Formalistas russos, que usam indiferentemente forma ou estrutura. Foi Claude Lévi-Strauss que deu notoriedade ao termo "estrutura" ao transferi-lo da Lingüística para a Antropologia. A teoria levistraussiana está fundamentada no princípio do isomorfismo entre as leis do pensamento e as leis do real. Captar as estruturas de determinados comportamentos humanos significa expressar racionalmente o inconsciente meta-individual que sustenta as regras do funcionamento social. Segundo esta teoria, a estrutura não poderia ser individualizada num objeto particular, mas num "modelo" teórico formulado a partir da análise de vários objetos. Distinguiríamos, então, a "forma" (o todo orgânico de um objeto concreto) da "estrutura" (o modelo geral elaborado pela análise dos elementos constitutivos e invariáveis, comuns a este e a outros objetos do mesmo grupo ou da mesma espécie). Aplicado aos estudos literários, o conceito de estrutura de Lévi-Strauss levaria a uma redenominação do trabalho proppiano A Morfologia do Conto: o formalista russo, Vladimir Propp, não teria descoberto a "morfologia", isto é, a "forma", mas a "estrutura" do conto fantástico, visto que construiu seu modelo a partir da análise de um corpus, constituído de cem narrativas fabulosas.
À margem das questões teóricas acerca do conceito de "forma" e "estrutura", deve ser salientada a enorme relevância dos estruturalistas, especialmente franceses, para a compreensão do texto literário, no que toca o estudo da narrativa ficcional. Trilhando o caminho percorrido por V. Propp (→ Formalismo → Função), eles procuram ampliar seu método de trabalho, estendendo-o à análise não só do conto popular, mas de qualquer tipo de narrativa. Roland Barthes amplia o conceito proppiano de função, acrescentando, às funções distributivas ou sintagmáticas (núcleos e catálises), as funções integrativas ou paradigmáticas (índices e informantes). A. J. Greimas reduz as 31 funções a três categorias básicas: as ações que dizem respeito ao "contrato", à "prova" e à "viagem" do herói. Quanto às personagens, as "sete esferas de ação" de Propp são transformadas, pelo semanticista francês, nas seis figuras do "modelo actancial", composto de três eixos: "querer" (sujeito/objeto), "saber" (destinador/destinatário) e "poder" (ajudante/oponente). Claude Bremond procura captar a rede de possibilidades lógicas, que engendram a narratividade, através da distinção de três momentos (virtualidade, passagem ao ato e resultado) e de dois processos (melhoramento ou degradação). T.Todorov estuda as categorias da narrativa literária, estabelecendo uma dicotomia entre "história" (a análise lógica das ações e das relações entre as personagens) e o "discurso" (a análise do processo da enunciação: o eu emissor e o tu receptor).