Saltar para o conteúdo

Dicionário de Cultura Básica/Moisés

Wikisource, a biblioteca livre

MOISÉS (Patriarca dos hebreus, Judaísmo) → BíbliaAbraãoAdão

A figura histórico-lendária de Moisés encontra-se no cruzamento das três maiores civilizações da humanidade: egípcia, grega e judaica, esta última continuada na era cristã. Entre os séculos XIII e XII a. C., o homo sapiens adquiriu um alto grau de desenvolvimento, lançando as bases da cultura no Médio Oriente (→ Egito)e no Ocidente. A civilização mais antiga, a egípcia, encontrou no faraó Ramsés II, chamado o Grande, que viveu entre 1298 e 1235, seu maior esplendor. Tribos nômades, descendentes do bíblico Israel, provenientes dos arredores do monte Sinai, que tinham encontrado refúgio nas fecundas margens do rio Nilo, foram de lá expulsas, na inauguração do Novo Império dos Faraós. Notamos que é também nesta época que surge a civilização grega. Foi no século XII que se deu a famosa Guerra de Tróia, cidade situada na costa ocidental do continente asiático: os gregos, depois de dez anos de assédio, conseguiram expugnar a rica cidade. As façanhas de heróis gregos e troianos povoaram o imaginário popular, que foi transmitindo oralmente histórias de personagens, costumes e ideais de vida, matéria utilizada mais tarde (séc. VIII) pelo rapsodo Homero, tradicionalmente considerado o autor dos dois belíssimos poemas épicos, Ilíada e Odisséia.

Moisés, Moshé em hebraico, significa "retirado". A tradução do nome Moisés, portanto, seria "aquele que foi salvo das águas". Mas, o pai da psicanálise, Sigmund Freud, num ensaio com o título "Moisés e a religião monoteísta", acompanhando estudos de especialistas na interpretação do Pentateuco, acha que o nome, como a própria pessoa de Moisés, não é de origem hebraica, mas egípcia. A palavra egípcia mose significa "menino": é com esse nome genérico que a filha do Faraó teria chamado a criança encontrada nas águas do Nilo. Egípcio ou judeu, o fato é que a figura de Moisés está envolta nas névoas da pré-história, sendo todas as notícias fabulosas. Quando falamos da libertação do povo hebreu do jugo dos egípcios, não sabemos ao certo se foram os judeus que se afastaram do Egito ou foram os egípcios que retornaram à sua terra natal, no início do Novo Império.

Seja como for, fundamental é relevar a personalidade de Moisés, chefe carismático, condutor e legislador do povo de Israel. Ele lutou para que os antigos hebreus tivessem uma pátria, a terra prometida de Canaã (Palestina), um conjunto de leis (Torá) e adorassem um único Deus (Jeová). Ele teve o mérito de dar unidade a tribos nômades e construir uma nação, assim como fará bem mais tarde, no século sétimo depois de Cristo, Maomé, juntando as dispersas tribos árabes sob a égide do deus Alá. Repare-se que o pai da religião muçulmana está irmanado com o chefe dos judeus, pois ambos descendem do lendário patriarca Abraão, considerado a origem das três religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo). Moisés (Velho Testamento) e Cristo (Novo Testamento) estão ligados a Jacó, mais tarde chamado Israel, filho de Isaac, que nasceu milagrosamente de uma relação de Abraão com a velha esposa Sara. Anteriormente, Abraão tivera um caso com escrava egípcia Hagar, de quem teve um filho, chamado Ismael. Repudiada, a jovem levou o filhos para as Arábias. A tradição islâmica reconhece em Ismael o ancestral do povo árabe e da religião muçulmana, pois a ele o arcanjo Gabriel teria confiada a custódia da Pedra Negra, venerada na cidade da Meca.

A figura de Moisés transcende a cultura judaica, pois suas Tábuas da Lei (os Dez Mandamentos) resumem o código cívico e moral, que deveria ser seguido por qualquer agrupamento social, independentemente de seu credo religioso. Os dez mandamentos poderiam ser reduzidos a um só, o 5º: "não furtarás". Quem observar este mandamento, que ordena o respeito ao que é do próximo, não se apropriará de nenhum bem material ou espiritual, público ou privado, a que outra pessoa tem direito. Este mandamento corresponde ao "imperativo categórico", formulado bem mais tarde pelo filósofo alemão Emanuel Kant (1724–1804): "não faça a outrem o que não gostaria que fosse feito a ti".