Dicionário de Cultura Básica/Bíblia
BÍBLIA (Velho e Novo Testamento, Judaísmo) → Abraão → Moisés → Cristo → Lutero
A palavra "Bíblia" deriva do grego ta bíblia, "os livros", indicando o conjunto dos textos considerados sagrados, pois supostamente redigidos sob inspiração divina, que os cristãos dividiram em dois Testamentos ("Alianças"): o Antigo (o Pacto de Deus com o povo judeu) e o Novo (de Cristo com todos os povos da Terra). Encontramos o conjunto da obra bíblica dos dois Testamentos agrupado em três categorias: livros históricos, didáticos e proféticos:
ANTIGO TESTAMENTO
- O Pentateuco (composto pelos cinco livros cuja autoria é atribuída a Moisés): Gênesis (conta a origem do mundo e do povo hebreu); Êxodo (história da saída do povo hebreu do Egisto); Levítico (organização do culto entre os hebreus); Números (história do povo eleito desde a legislação do Sinai até à entrada na Transjordânia); Deuteronômio (exortação para ser fiel à Lei).
- Josué (história da entrada na Terra Prometida)
- Juízes (história do povo hebreu de Josué a Samuel)
- Ruth (uma prova da misericórdia divina)
- Livros dos Reis (historiam o governo de Israel pelos governantes da casa de Davi)
- Esdras e Neemias (restauração de Israel após o cativeiro de Babilônia)
- Tobias (caridade e esperança em Deus)
- Judite (a libertadora de Betúlia)
- Ester (a proteção de Deus)
- Macabeus (heroísmo e fidelidade à fé e à lei)
- Job (a paciência heróica)
- Livro dos Salmos (hinos sagrados, atribuídos a David)
- Provérbios, Eclesiastes e Cânticos dos Cânticos (atribuídos a Salomão)
- Sabedoria (atribuído erroneamente a Salomão)
- Eclesiástico (atribuído a um tal de Jesus, filho de Sirac)
- Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel e Daniel (os chamados "Profetas")
- Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habucuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias (os "profetas menores")
NOVO TESTAMENTO
- Os Quatro Evangelhos (a vida de Cristo, conforme os Apóstolos: Mateus, Marcos, Lucas e João)
- Atos dos Apóstolos (a pregação de Pedro e Paulo, de autoria do evangelista Lucas)
- Epístolas de São Paulo (14 Cartas a vários povos)
- Epístolas Católicas (2 de São Pedro, 3 de São João Evangelista, 1 de São Tiago, 1 de S. Judas Tadeu)
- Apocalipse (São João Evangelista fala da vitória final de Cristo sobre Seus inimigos).
Essa listagem dos livros bíblicos pertence à ortodoxia católica, existindo edições com algumas variantes, especialmente as publicadas por setas protestantes e outras obras consideradas apócrifas. Agora, a pergunta fundamental: quando e quem escreveu esses Textos de histórias e sabedoria, tidos como "sagrados" por judeus e cristãos? Como afirma um personagem da famosa obra O Código da Vinci, do ficcionista americano Dan Brown, "A Bíblia não chegou por fax do céu. Ela é um produto do homem, não de Deus. A Bíblia não caiu magicamente das nuvens. O homem a criou como relato histórico de uma época conturbada, e ela se desenvolveu através de incontáveis traduções, acréscimos e revisões". Efetivamente, a formação da Bíblia deu-se através de vários séculos e de muitas mãos. De modo semelhante ao surgimento dos mitos gregos, da epopéia homérica e dos cantos épicos medievais (→ Mitologia→ Épica), também a narração bíblica começou pela tradição oral: lendas sobre heróis, considerados fundadores de uma nacionalidade, foram transmitidas de pais para filhos, até que, em estágios civilizacionais mais avançados, algumas personalidades cultas foram colocando por escrito o que vinha sendo transmitido oralmente. Em suas origens, pois, a narrativa bíblica, como os cantos épicos primitivos e os contos populares de qualquer povo, é uma produção anônima e coletiva. Que os livros sejam considerados "sagrados", pois escritos por autores inspirados por alguma divindade, é uma questão puramente de fé! Quanto ao Novo Testamento, por exemplo, foi Santo Irineu (130–202), alcunhado "o caçador dos hereges", o primeiro a achar que apenas os quatro evangelhos considerados "canônicos" pela Igreja de Roma foram escritos sob inspiração divina, enquanto os outros textos sobre a vida de Jesus não eram "inspirados". Já o profeta Maomé aproveitou mais dos evangelhos apócrifos para a formulação da doutrina registrada no Corão. Numa outra passagem do romance de Brown, lê-se: "a Bíblia, conforme a conhecemos hoje, foi uma colagem composta pelo imperador romano Constantino, o Grande" (→ Helenismo). Este teria tido a visão de uma cruz cristã, onde estava escrito "sob este signo vencerás". Constantino venceu a batalha de Monte Mílvio e, por gratidão, impôs o Cristianismo em todo o Império Romano.
O Antigo Testamento narra a história dos hebreus, um povo semita do antigo Oriente, que acabou se instalando na Palestina. Originariamente, os "hebreus" (de Hebron, cidade da Jordânia), também chamados de "judeus" (de Judéia, região do Sul da Palestina) e de "israelitas" (de Israel, outro nome de Jacó que, em hebraico, significa "que Deus reine"), eram tribos seminômades, provenientes do deserto siro-árabe. Abraão que, junto com Isaac e Jacó, é considerado o ancestral do povo hebreu, desceu para a Palestina, ocupando terras para dar estabilidade ao seu clã, abandonando o nomadismo. Enquanto seu filho Isaac se instalava na região do Hebron, seu neto Jacó foi para o delta do Nilo, no Egito. Durante a dinastia de Ramsés II (1298–1235), os hebreus, sentindo-se escravizados, se refugiaram no monte Sinai, liderados por Moisés, o chefe carismático, que teria recebido do deus Yaveh (Jeová) as Tábuas da Lei (Torah). Moisés conseguiu unir os diversos grupos num mesmo povo, em torno do culto de um único deus, estabelecendo normas e costumes. A figura de Moisés não deixa de ser um mito, pois não temos nenhum documento histórico de sua vida São lendários seu nascimento ("salvo das águas", assim como Rômulo, o mítico fundador de Roma), sua vida milagrosa e sua morte misteriosa. O pouco que sabemos sobre ele é o que se encontra no Pentateuco. Entretanto, ele se tornou fonte inesgotável de cultura religiosa, sendo venerado até pelo Islamismo. Realmente, Moisés, descendente de Abraão, é considerado, como Cristo, Buda e Maomé, um dos maiores Profetas, uma personalidade misteriosa e inefável, que conseguiu estabelecer um elo de ligação entre a divindade e a humanidade. A ele devemos os primeiros escritos da fé cristã: as tábuas dos Dez Mandamentos!
A religião moisaica foi o preparo para os hebreus conquistarem a terra de Canaã. Entre 1220 e 1030, as 12 tribos israelitas, lideradas por Josué e por outros chefes momentâneos, chamados "Juízes", guerrearam contra cananeus, moabitas e filisteus. A necessidade de terem um chefe permanente fez com que os hebreus adotassem o regime monárquico. O primeiro rei israelita foi Saul, mas somente sob o reinado de Davi (de 1010 a 907) os judeus conseguiram a unidade nacional, que os levou à vitória contra os inimigos. Seu filho Salomão passou à história pela sua sabedoria e magnificência. Mas, após sua morte, o reino israelita se dividiu e lutas fratricidas atiçaram a sanha de povos vizinhos. Egípcios, assírios, babiloneses, macedônios e, enfim, os romanos ocuparam, sucessivamente, as terras hebraicas. Em 70 d.C., as legiões do general Tito, para pôr fim a uma revolta, destruíram Jerusalém e seu Templo sagrado. Acaba, assim, a história do Antigo Testamento. O Judaísmo, é claro, irá continuar, mas o surgimento da figura de Cristo dará um novo vulto à cultura no Ocidente. O sofrimento do "Hebreu Errante", o mito da busca do homem por uma pátria, chega ao paroxismo com o Holocausto, nome que designa os 12 anos (1933→1945) de perseguição nazista contra os judeus, na tentativa de exterminar toda a raça hebraica (→ Hitler). Finalmente, após o fim da II Guerra Mundial, precisamente em 14 de maio de 1948, atendendo a uma resolução da Assembléia Geral da ONU, foi fundado, em território palestino, o Estado de Israel, declarando-se Jerusalém território internacional. Os hebreus conseguiram uma pátria, mas não a paz, pois começara a interminável guerra entre os judeus e os árabes limítrofes. Mas essa é outra história, que não está na Bíblia!