Dicionário de Cultura Básica/Eurípides
EURÍPIDES (dramaturgo grego) → Tragédia → Teatro
O poeta trágico Eurípides (480–406) nasceu na Macedônia, mas viveu na Grécia. Discípulo dos filósofos Anaxágoras e Protágoras, ele sentiu muito as influências do pensamento sofista: o valor do homem mede-se pelos seus dotes individuais e não pela nobreza do nascimento. Espírito cético em relação aos deuses e ao destino, condenou a guerra, considerada estúpida e fonte de infelicidade. Escreveu sessenta e sete tragédias e sete dramas satíricos, mas só nos restam dezoito peças dramáticas, das quais as mais importantes são: As Troianas: trata-se de uma tragédia "episódica", onde está representado o sofrimento das principais senhoras de Tróia, causado pela guerra: Cassandra, filha dos soberanos Príamo e Écuba, na sua exaltação profética, prediz a desgraça dos gregos vencedores (Aquiles é morto, Ájax enlouquece, Agamenão é assassinado pela própria esposa, Ulisses sofre por dez anos antes de voltar a Ítaca); Andrômaca, a viúva de Heitor, vê seu filhinho Astíanax jogado do alto de uma torre para evitar o perigo da restauração do reino de Tróia, e torna-se escrava de Neptólemo, filho de Aquiles. Nesta tragédia, Eurípides contesta os principais valores ideológicos da sua época: a necessidade das ações bélicas; a escravidão a que eram submetidos os vencidos; a concepção das divindades mesquinhas e ridículas, cujas paixões eram mais vergonhosas do que os vícios humanos. Centradas sobre o mito de Ifigênia, há quatro peças, ainda acerca do ciclo troiano, mas com particular relevo a Agamenão, o chefe da expedição grega: Ifigênia em Áulis, Ifigênia em Táurida, Orestes e Electra. Já a peça Hipólito diz respeito ao mito de Fedra. As Bacantes: é a tragédia que representa os horrores a que pode levar o fanatismo religioso. Em Tebas, o rei Penteu não quer reconhecer Dionísio como deus, por incentivar a luxúria e os maus costumes. Então, durante os ritos orgiásticos, Baco se vinga inspirando na mãe de Penteu um tal furor que ela acaba despedaçando o próprio filho. Mas, talvez, a peça mais importante de Eurípides seja Medéia, centrada sobre o mito dos Argonautas. Pode-se relevar que a tragédia grega apresenta um processo de gradativa humanização do mito. Face à tragédia transcendente e fatalista de Ésquilo e aquela heróica e clássica de Sófocles, as peças de Eurípides revelam um aspecto mais natural, mais humano e mais popular. Eurípides não mais acredita cegamente nos deuses da mitologia antiga, criticando seus atos indecorosos. Altera, portanto, os assuntos míticos para torná-los mais aderentes à realidade. Sua preocupação principal é a representação artística das paixões humanas. Por isso é violentamente atacado pelo seu contemporâneo, o comediógrafo Aristófanes, que lhe atribui a causa da decadência do teatro clássico grego. Em compensação, Eurípides é considerado o precursor do moderno drama burguês.