Dicionário de Cultura Básica/Narciso
NARCISO (mito da beleza masculina, Páris, Don Juan, Casanova) → Adônis → Eco
A figura mitológica de Narciso se originou da fecundação da ninfa Liríope pelo rio Cefiso. O adivinho Tirésias, interrogado sobre o futuro do nascedouro, predisse que a criança viveria até o momento em que tentasse se conhecer. Jovem de uma beleza ímpar, Narciso despertou amor em muitas deusas e mulheres mortais. Especialmente a ninfa Eco se apaixonou por ele, mas, incapaz de declarar-lhe seu amor, pois Juno a castigara a repetir apenas os últimos fonemas de uma palavra, ela se deixou definhar até a morte. Nêmesis, a deusa da Justiça, determinou o castigo. Nas Metamorfoses do poeta latino Ovídio, a fonte literária do mito grego, está escrito que Narciso, que desprezara o amor de uma ninfa, fora condenado "a também ele amar e jamais possuir o objeto do seu amor". Ao refrescar-se numa fonte, após uma caçada, Narciso, ao ver a beleza do seu corpo refletido nas águas, se apaixonou por si mesmo e, inclinando-se cada vez mais para gozar da sua imagem, acabou se afogando. No lugar em que a erva se impregnou do seu sangue, nasceu a flor que tomou seu nome. O narciso é uma flor cor de açafrão, cuja corola é cercada de pétalas brancas. O mito de Narciso inspirou várias obras da Literatura Ocidental. Especialmente na época do Simbolismo, a lenda da beleza refletida adquire extrema importância. O escritor francês André Gide publica O Retrato de Narciso, em 1892. Ele relaciona o mito de Narciso com o do Andrógino, do homem completo, mas desejoso de ver sua essencialidade. Quebrando um ramo da árvore da sabedoria (→ Adão), a harmonia se desfaz. Narciso simboliza o poeta que se imerge na água cristalina, símbolo da obra de Arte. O artista busca o impossível: a fusão entre ele e seu reflexo, entre a aparência efêmera e o ser profundo, o absoluto. O narcisismo é a explicação mítica do fenômeno que, em psicologia, se chama egolatria: a adoração de si próprio, a introspecção da libido. Para Freud, o narcisismo é um estado patológico, cuja manifestação é a melancolia.